Dons e Ministérios na Religião
Não conheço religião que faça um descolamento dos dons entre físico e metafísico. Todas carregam a ideia de donativos divinais para os homens. Quer sejam concedidos por um único Deus ou por vários, gratuitos ou não, a ligação com a divindade é direta.
Importância dos Dons e Ministérios
O estudo dos dons e ministérios é relevante porque estamos ligados a uma religião. O cristianismo, como outras religiões, professa a fé em Deus. Acredita-se que a aproximação com Deus permite adquirir o benefício do charisma, isto é, receber um dom gratuito de Deus para proporcionar crescimento e satisfação para outros.
Definição e Uso dos Dons
No mundo antigo, a palavra dom era usada em vários sentidos. Nosso foco está nas formas apresentadas pelo grego, pois nosso estudo se baseia no Novo Testamento. Esse termo não é usado apenas para coisas espirituais; abrange tudo que se refere a presentear. As palavras mais conhecidas no cristianismo são pneumatikos e charisma.
Diferença entre Dom e Talento
No mundo bíblico, a distinção entre dom e talento existe porque talento era o nome de uma moeda, ou seja, dinheiro. As habilidades pessoais não são destacadas, mas quando mencionadas, referem-se ao serviço religioso, sendo vistas como uma capacitação de Deus para os homens. Não são todos que acreditam que os homens nascem com uma habilidade específica, apenas precisando desenvolvê-la.
O Mito de Prometeu
No diálogo de Platão, Protágoras, Platão conta o mito de Prometeu. Prometeu e seu irmão Epimeteu criaram seres mortais como uma forma de divertimento. Epimeteu distribuiu todos os atributos entre os animais, não deixando nenhum para Prometeu criar o homem. Irritado, Prometeu roubou a astúcia de Zeus para criar o homem. Assim, a única habilidade natural do homem é a astúcia, a capacidade de conseguir o que precisa.
A Natureza do Homem
Segundo Cortella, “o homem não nasce pronto”. Rousseau e Clóvis Barros Filho compartilham essa visão: o homem precisa transcender sua natureza e se tornar algo. “O homem não tem limite; o céu é o limite” (Clóvis Barros Filho).
Essência e Existência
Sartre discute a questão entre essência e existência. Para ele, a existência vem primeiro no caso dos homens, pois somos aquilo que fazemos. No essencialismo, a vida do homem é correr atrás do que ele é. Se Deus nos criou prontos para algo e não conseguimos descobrir o que é, qual o sentido da vida? Como podemos nos relacionar com Deus que espera que façamos o que fomos feitos para fazer?
A Liberdade e a Angústia da Escolha
Outra questão é a liberdade. Como professar uma liberdade quando foi pré-moldado? Se minha essência determina quem sou, não posso fazer outra coisa, excluindo então a liberdade. Por isso, Sartre diz que a liberdade é uma condenação, “fomos condenados a sermos livres”. Daí vem a angústia de não saber o que fazer da vida.
O Significado Espiritual dos Dons
Por ganhar um significado espiritual, o dom é visto como uma capacitação do Espírito de Deus aos homens para executar serviços religiosos, para o crescimento da igreja. Habilidades naturais, chamadas de talentos, são usadas ou não para a glória de Deus. Na visão essencialista do cristianismo, todos deveriam usá-los para Deus, pois foi ele quem moldou o homem assim.
Dons e Ministérios
A separação entre dons e ministérios ocorre pela divisão dos dons. Existem os dons espetaculares (milagrosos), que não são fixos, manifestando-se conforme a vontade do Espírito de Deus e a necessidade da comunidade. Os dons espirituais de ministérios (da palavra, doutrinais) são considerados fixos e irrevogáveis.
Conclusão
A tentativa aqui foi mostrar que a diferença entre dom e talento é uma distinção religiosa dos serviços realizados em favor do reino de Deus. No pensamento cristão, ambos são dádivas divinas. A diferença entre dons e ministério deve-se à temporalidade de cada um.
Escrito por Pr. Eliú Ferreira