Auto consciência do ser pecador

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8. ἐὰν εἴπωμεν ὅτι ἁμαρτίαν οὐκ ἔχομεν, ἑαυτοὺς πλανῶμεν καὶ ἡ ἀλήθεια οὐκ ἔστιν ἐν

ἡμῖν. : Se dissermos que não possuímos o pecado, a nós mesmos enganemos e a verdade não está em nós.

9. ἐὰν ὁμολογῶμεν τὰς ἁμαρτίας ἡμῶν, πιστός ἐστι καὶ δίκαιος, ἵνα ἀφῇ ἡμῖν τὰς ἁμαρτίας καὶ καθαρίσῃ ἡμᾶς ἀπὸ πάσης ἀδικίας. : Se declararmos publicamente os pecados de nós, fiel ele é e justo, de modo que nos perdoa os pecados e nos limpa separadamente cada injustiça 

10. ἐὰν εἴπωμεν ὅτι οὐχ ἡμαρτήκαμεν, ψεύστην ποιοῦμεν αὐτὸν, καὶ ὁ λόγος αὐτοῦ οὐκ ἔστιν ἐν ἡμῖν. : Se dissermos que não pecamos, o mentiroso fazemos dele, e a palavra dele não está em nós. 

I João. 1: 8-10

Pr. Eliú Ferreira

Essa epístola que leva o nome de João fora escrita cerca do ano 100 d.C. E essa datação é algo inquestionável por todos. Concernente a autoria, enquanto a tradição afirma categoricamente que tanto o Evangelho de João, as três epístolas e o Apocalipse são de autoria do discípulo amado, existem outras correntes teológicas que nos mostram que há diferentes autores

Essa carta começou a sofrer ataques, durante a história da igreja. Alguns críticos observaram “… o fato de a própria carta não apresentar seu autor como a maioria das epístolas do Novo Testamento. Além disso, levantaram a questão das limitações acadêmicas do apóstolo João…” (King James, 2007). Todavia, as respostas a essa questão também se levantaram durante a história da igreja. Alguns pais da igreja aceitaram e afirmaram a autoria ao discípulo amado. Raymond E. Brown nos diz que a mesma foi escrita certamente por alguém da tradição joanina (BROWN, 2012). Em seu livro “A Comunidade do Discípulo Amado” ele trata a autoria da mesma como sendo de alguém da comunidade joanina. Optamos nessa pesquisa aderir à opinião de Brown quanto à autoria.

A linguagem que o autor usa para escrever essa epístola é uma linguagem exortativa, ou seja, alertando aos seus leitores quanto aos falsos mestres separatistas que estavam permeando a igreja na época. Os separatistas era um grupo de pessoas que faziam parte da comunidade joanina, eles conheciam muito bem o evangelho do discípulo amado, entretanto, estavam fazendo interpretações errôneas concernente aos escritos de João.

É dito que os separatistas tinham um vínculo com os gnósticos, docetas, cerintianos e montanistas do século segundo. (BROWN, 2011). A afirmação dupla dos adversários de ausência de pecado está relacionada ao:

quarto evangelho, quando sabemos que a terminologia ‘culpados de pecado’ e ‘escravos do pecado’ é usada aí com referência aos não-crentes. Em João 8,31-34 Jesus se dirige aos adversários judeus deste modo: ‘Quem comete o pecado é escravo’ enquanto que ‘Se permanecerdes na minha palavra, sereis, em verdade, meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Uma vez que, por contraste com o não-crente, o crente está livre do pecado, os separatistas estão realmente apenas reformulando as palavras de João, quando afirmam que estão livres da culpa do pecado. (BROWN. A comunidade do discípulo amado, 2011. 130p)

Na sequencia o evangelista ilustra a história de um cego de nascença, e esse ao ser iluminado é livre do seu pecado, pois a comunidade considerava a cegueira do mesmo como fruto de pecado. “Uma suposição lógica é que o cego que reconheceu a sua cegueira não é culpado de pecado, e seu pecado não permanece (…) os separatistas[1] (…) considerando-se a si mesmos os que foram iluminados e, portanto estão livres de pecado”. (BROWN, 2011. 131p)

O autor não nos dá base para declararmos que não pecamos inclusive no texto que estamos discutindo, o próprio (autor) diz que aquele que declara não pecar faz de Deus mentiroso e a sua palavra não está nele (v. 10). Portanto, o autor “… vê a ausência de pecado como a própria implicação da geração divina e por isso como uma obrigação do cristão. Entendo que seu ‘não comete pecado’ significa ‘não comete conseqüentemente pecado’, pois noutra parte ele reconhece que os cristãos podem pecar”. (BROWN, 2011. 132p)

Enquanto os separatistas diziam que fazia parte dos iluminados que veio ao mundo como uma centelha do divino e, sendo assim, não tinham pecado. O escritor da epístola nos é bem claro que os cristãos verdadeiros confessam seus pecados publicamente, para os quais Jesus é expiação (BROWN, 2012) Pretender não ter pecado, diz Brown, “… é fazer de Deus um mentiroso, e mentir é uma característica de Satanás (Jo 8,44). 1 João não deseja encorajar o pecado, mas lembrar-nos de que, se pecarmos, temos um Paráclito junto ao Pai, ‘Jesus Cristo, o Justo’.” (BROWN, 2012. 521p.)


[1] Assim como o Filho de Deus era sem pecado, os separatistas, baseando-se na afirmação de João 1:12, declaram-se sem pecado, pois se tornaram filhos de Deus. Na própria epístola em questão vemos o autor em alguns versículos afirma que aquele que nasce de Deus não comete pecado, assim como os separatistas afirmavam uma ausência de pecado e um perfecionismo.

TPG

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