Escrito Por Pr. Eliú Ferreira
I – Membros Uns Dos Outros
Como é possível não se assustar frente à realidade familiar que circunda em nosso século, quando nos disponibilizamos para averiguar a mala de viagem da modernidade para a pós-modernidade e o que conseguimos encontrar nela sobre a família é um retrato empoeirado, onde não se percebe mais a presença do pai, o rosto da mãe, a existência dos irmãos e a possibilidade de outros parentes. Em teoria essa instituição se mostra presente, mas no dia a dia perdeu quase todos os traços, tornando assim a procura pela mesma, algo desesperador.
Precisamos nos acautelar, pois a igreja só faz sentido se houver relacionamento, ou seja, o sentido da igreja é ser uma família, porque esse conceito abarca algo além de laços sanguíneos. O ser humano é especialista em comparações e busca de modelos. Se não encontrar na sua própria casa o significado de família, é bem provável que permanecerá sem compreender o sentido de serem membros uns dos outros.
Utilizei o termo “provável” porque não é só na particularidade que se tem exemplos, a nossa regra de fé está recheada de arquétipos indicando como viver em família, nesse sentido a igreja ganha bastante relevância (voltarei no tema da relevância mais tarde). Acautelai-vos, ser membros uns dos outros requer cuidado e zelo, pois assim como sabemos que cada parte do nosso corpo é importante, assim são os membros de nossas famílias “quem cria desordem em casa terá vento como herança; e quem não tem juízo será escravo de quem é sábio” (Pv. 11:29)
Membro é aquilo que faz parte constitutiva de um conjunto, de um todo, sendo assim, a família só existe completa quando todos os membros são recebidos como indispensáveis, todavia para essa indispensabilidade ser nota é preciso soprar a poeira do retrato da família, e voltar a enxergar a presença do pai, o rosto da mãe, à existência dos irmãos e realidade de outros parentes. A igreja como uma grande família pode nos ajudar a notarmos a nossa pequena.
II – Uma Família Espiritual
Como já dissemos acima, a família está além de laços sanguíneos, portanto o conceito de espiritualidade familiar faz todo o sentido e deve ser levado mais a sério (até mesmo porque toda a humanidade é fruto de um casal, sendo assim então uma família). As diferenças culturais, sociais e raciais, nos fazem acreditar que não temos vínculos uns com os outros, por isso quando olhamos para uma humanidade sofredora não nos ressentimos tanto.
Pensar em uma família espiritual nos sugeri olhar para o outro como semelhante, alguém que preciso para me construir, pois as relações entre os indivíduos servem como espelhos um para o outro, ou seja, na alteridade passo a me conhecer colocando em xeque a utopia do autoconhecimento. Acautelai-vos contra o narcisismo, essa tendência que não para de crescer dentro e fora das igrejas, das famílias, pois é incrível o número de pessoas que não conseguem olhar para o outro como semelhante e lhe estender a mão para ajuda-lo em suas necessidades e para se alegrar com suas conquistas.
Paulo, o apóstolo, escrevendo aos Romanos diz: “cada um de nós procure agradar a seu próximo em vista do bem, para edificar” (cf. 15:2). Eis o princípio cristão de família, a boa vontade (para usar um termo kantiano), isto é, a capacidade de utilizar a razão para fazer ao outro tudo quanto faria para você mesmo (cf. Mateus 7:12, aqui Jesus faz uma pequena modificação na famosa regra de ouro)
III – A Relevância Dos Cultos
Será que você já se perguntou qual a importância dos cultos congregacionais? Pois bem, eu sim! Por mais que a igreja sempre tenha sido algo que só me fez bem, eu queria saber o porquê das reuniões constantes. Encontrei uma resposta tão simples, que acredito que vale a pena compartilhar com vocês: temos que nos reunir por que a bíblia nos ensina assim. Primeiro exemplo que dou é a ordenança do Cristo, esse no partir do pão estabelece os cultos congregacionais com a seguinte fala “todas as vezes que se reunirem em meu nome…”, posteriormente todas as cartas paulinas são enviadas para as igrejas, salvo as pastorais (mas elas são direcionadas para lideres de congregações), esses dois exemplos deixam bem claros que devemos nos reunir.
A relevância dos cultos também se apresenta como uma reunião familiar, pois a mesma é o coração de um mundo sem refúgio. As pessoas estão perdidas, sem parâmetros para viver, suas famílias desestruturadas, quando procuram a igreja, na verdade estão em busca de um lar, lugar aconchegante, prazeroso de estar. Será que é essa imagem familiar que estamos passando para eles, ou a nossa indignação com os cultos (nossa família espiritual) está servindo como meio de expurgar aqueles que querem se sentir em uma família?
Acautelai-vos, pois o desprezo pelo culto faz com que nos tornemos estranhos sentados na mesa de casa, ou seja, alguém que ninguém reconhece como parte da família causando assim a rejeição e demonstração do quão insignificante eis. Talvez seja por isso que muitas igrejas criam grupos separatistas que se tornam impermeáveis ao verdadeiro evangelho, isto é, “amar ao próximo como a ti mesmo”. Na verdade o estranho deveria ser tratado com amor até ser enxertado na família.
Considerações Finais:
Pretendemos convidar o leitor e estudante dessa lição a deliberar um pouco mais sobre o seu papel nessa grande família que é a igreja. Partimos das pequenas famílias, ou seja, aquelas constituídas de pai, mãe e filhos, até chegarmos na grande família que é a igreja, considerando-a como um corpo onde você e eu fazemos partir. Chegando assim ao escopo dessa lição que foi mostrar que quanto mais nos entendemos como membros uns dos outros e participantes de uma família espiritual, vamos nos acautelar frente a relevância dos cultos.